Severina Tenório é o retrato da mulher guerreira em programa que estreou no início de outubro e já entrou no top 10 de produções mais vistas do mundo

A diarista paraibana Severina Tenório, de 54 anos, recebeu o convite mais inesperado da vida: participar de um reality show e concorrer a um prêmio de meio milhão de reais. Mas a surpresa maior foi a estrutura do programa: Em um experimento social aberto para o público de 190 países, o programa gravado em uma ilhada deserta une seis casais sem que estes saibam que a sogra de um deles irá ‘aparecer’ e participar do programa até o final das gravações. A família Tenório embarca em uma aventura em que suas condições são colocadas à prova: inteligência emocional, resistência, força física.
Ilhados com a Sogra é uma produção na Netflix Brasil apresentada por Fernanda Souza e já teve mais 6 milhões de horas consumidas na plataforma. Com toda essa visibilidade, não foi difícil Severina, a filha Mayara e o genro Thyago ganharem notoriedade no Brasil e no mundo.
Porém, esse é “mais um reality em que pessoas negras se tornam campeãs morais”, como abreviou o site Mundo Negro. “É a mesma coisa que acontece lá fora, que a gente vive nossa vida inteira”, explica o genro de Severina, Thyago Cesar, no momento em que desabafa com a noiva Mayara Tenório no último capítulo da série sobre o confinamento com os outros participantes e a perseguição contra a família Tenório.
O cenário que se armou nas gravações foi resumido pelo jornalista André Santana como uma “rejeição comum às mulheres pretas, pobres e nordestinas, que são insubmissas diante das opressões” em seu artigo de opinião divulgado no Uol. “É o “pacto narcísico da branquitude”, que devemos sempre apontar desde que a psicóloga Cida Bento definiu tão bem esses compromissos de proteção e promoção estabelecidos entre as pessoas brancas para manter os privilégios proporcionados pela estrutura racial, que exclui e impede o acesso dos não-brancos a direitos e oportunidades”, narra Santana, que resgata fala da própria Severina no reality.
“Eu ser inteligente é uma afronta. Eu sou uma preta, nordestina, diarista. É exatamente isso”, diz Severina convicta desarmando as possíveis desculpas para estigmatizá-la como revoltada e sem educação.
Depois do Show
Do lado de fora da ilha deserta e longe das câmeras do reality, a família Tenório continua lutando para superar os desafios econômicos e sociais diários. Em especial Severina, que trabalha como diarista no Rio de Janeiro, onde mora com a filha mais nova. “Eu ainda tenho que pagar minhas contas, ainda não fiquei rica, ainda não tenho um grande contrato, mas estamos na luta e na batalha. O que tiver que fazer a gente faz. A gente não só faz o que gosta, a gente faz também o que é necessário”, conta desabafando, mas mantendo o bom humor.
Nas redes sociais, respondendo seguidores que questionavam se ela havia conversado com os participantes depois do fim das gravações, Severina compartilhou que após o reality soube de encontros entre os outros participantes, mas que a família Tenório não havia sido convidada. “Eu não conversei com nenhum deles depois do programa, a não ser os dois da minha família, pois o que eu vivi lá foi muito difícil. O programa foi muito legal, mas o meu ponto de vista é diferente dos outros participantes. Aqui, sei que já se uniram e reuniram, mas minha família não foi convidada. Só sei porque postaram fotos nas redes sociais divulgando o grande encontro das famílias de milhões, mas não incluía a minha família, não”, explica Severina Sincera, como foi apelidada.
Planos futuros
A família Tenório tem veia artística. Mayara é do teatro, Thyago da locução, Gabriela (filha mais nova que não apareceu no reality) é compositora e cantora e Severina é compositora.
“O plano agora é tentar dar uma impulsionada na carreira de minha filha mais nova. O dinheiro, se nós ganhássemos, seria especialmente pra isso. Mas como não deu, eu quero tentar mostrar para o mundo o talento dela unido a algo que eu também amo fazer: escrever letras de músicas. Eu canto sobre negritude, sobre periferia – que é onde eu vivo -, sobre histórias do dia a dia e também adoro um forró. Eu não sei cantar de jeito nenhum, mas compor é comigo mesmo e é algo que amo fazer. Tem tudo a ver com o que eu faço é conversar, refletir, falar com o coração aberto”, revela Severina Tenório que já possui mais de 20 mil seguidores no Instagram, mesmo sem assessoria de mídias sociais ou agente.
O que eu consegui foi uma assessoria de imprensa voluntária, sem custos, porque eu nem minha família podemos investir como os outros participantes estão fazendo. Já vi que estão fazendo fotos, camisetas, participando de eventos, têm assessoria de redes sociais. Tudo é muito bonito. Claro que eu também gostaria de ter tudo isso, porém, sou grata pelo que tenho agora. E o que eu tenho é a minha língua, que como eu já disse, é minha arma, meu escudo e meu Deus. E a minha rede de apoio são as pessoas que estão me conhecendo, me apoiando, minha família. O que eu quero é trabalhar, fazer o que eu acho que é o certo, ajudar minha família, minha filha que tem um talento lindo, tentar um posicionamento melhor profissionalmente falando e viver minha sem peso na consciência respeitando os outros e a mim mesma sem baixar a cabeça”, finaliza Severina.
A ex-participante do Ilhados com a Sogra está no Instagram com o perfil @severinasincera onde também divulga as redes da filha e do genro da equipe Família Tenório.
Crédito para fotos: Arquivo Ilhados com a Sogra
Por Silvia Valim